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20 de Março de 2021 06h01

Idosos que vivem na zona rural relatam alívio por receber vacina contra covid-19 em casa

20/03/2021

CELLY SILVA

Luiz Alves

Às 7 horas da manhã, Marinete Oliveira Ribeiro, coordenadora das equipes de saúde Zona Rural de Cuiabá, já está na Vigilância Epidemiológica para buscar as doses da vacina contra a covid-19 que serão utilizadas ao longo da manhã, em que as equipes de atenção primária e do programa AMOR – Assistência Médica e Odontológica Rural – pegam a estrada e vão de chácara em chácara onde tem algum idoso acima de 80 anos para ser vacinado. 

Após receber as doses, Marinete as leva para a unidade básica de saúde da comunidade, onde a equipe se reúne para alinhar os trabalhos. A van com motorista, médico, enfermeiros e técnicos de enfermagem saem com as doses de vacinas Coronavac e são recebidos pelos idosos e seus familiares, geralmente um filho ou uma filha. Esse público não precisou fazer agendamento pelo site da campanha “Vacina Cuiabá – sua vida em primeiro lugar”. Foram previamente rastreados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). 

No primeiro dia de vacinação na zona rural, que ocorreu na quarta-feira (17), 28 idosos acima de 80 anos foram contemplados, nas comunidades de Rio dos Peixes, Barreiro Branco e Coxipó do Ouro. Na quinta-feira (18), 52 idosos foram vacinados no Distrito de Nossa Senhora da Guia e na sexta-feira (19), houve a aplicação da primeira dose em 44 idosos do Distrito de Aguaçu. Nos próximos dias 22 e 23 de março, outras comunidades atendidas pelo programa AMOR serão contempladas. 

 

Fim da espera

 

Ruth Porto Melhado, 87 anos, moradora do Parque Mirella, na MT-351 (Estrada do Manso), resumiu em uma palavra o sentimento ao ser vacinada: “Alívio”. Em seguida, relatou que estava preocupada porque tem diabetes. “É controlada, mas sempre tem a tonteira, mas meu corpo está ótimo!”.

Dona Francisca dos Santos Lima, 90, também moradora do Parque Mirella, demonstrou porque é importante o trabalho do programa AMOR, que vai até os lugares mais distantes, em busca daqueles que não tem condições de se locomover. “Estou bem, graças a Deus. A minha ruindade é que eu não posso andar. Eu ando com dificuldade”, disse, apoiando-se no andador. “Estava até pensando como é que eu ia lá, né. Mas Deus abençoou que vocês vieram aqui”, comemorou Francisca.

Ela e a dona Esther Sales Marques, 84, que vive na mesma casa e também foi vacinada, passaram ilesas à covid-19, graças ao isolamento social. Dona Esther contou que estava apreensiva à espera da vacina e triste, ao longo dos meses de pandemia. “A gente vê televisão e vê o sofrimento das pessoas. A vacina traz uma esperança porque eu sempre vacinei todas as vezes, tanto eu me vacinava como vacinava os filhos todos. Fico muito contente e feliz que está se tornando mais fácil para os idosos”, relata. 

Quem também destacou a facilidade no atendimento aos idosos que vivem na zona rural foi Elisângela Ferreira Lima, filha de Francisca e nora de Esther. “É um alívio e tanto! Principalmente pela questão da facilidade. Glória a Deus! Eu tenho muito a agradecer vocês pela disponibilidade e por estar com tanto carinho cuidando dos idosos. É uma bênção! Eu fico muito feliz!”

A senhora Olerinda Dejanira de Jesus, 85 anos, é outro exemplo de quem seguiu à risca o isolamento social e passou ilesa à covid-19. “Nunca mais saí daqui, tô aqui isolada. Tenho saudades dos filhos que estão pra lá. Sou mãe de 19, só que já morreram seis. Graças a Deus até hoje não peguei covid. Eu acho muito bom ser vacinada pra ver se Deus livra nós dessa doença. Estou com esperança que vai ser bom, se Deus quiser. Desejo melhoras, que seja muito bom e que não venha mais nada contra nós”, intercede. 

Para passar o tempo, dona Olerinda conta que durante o isolamento social, aprendeu com uma filha a fazer tapetes, o que se tornou para ela uma forma de terapia e de renda extra. “Faz pouco tempo que comecei a fazer. É que eu não fazia nada, né. Ai minha filha trouxe aqui, me ensinou e nós tá fazendo, vendendo pra pagar a luz, pra comprar as coisas”. 

 

Alegria em contribuir

Não somente os idosos e seus familiares ficam felizes e gratos em receber a vacina contra a covid-19 e renovar a esperança de que a pandemia vai acabar.  A médica de família Maria Elisa Duarte Nadaf, que atua no programa AMOR, ressalta que, para ela, esse momento tem sido não só de importância profissional, mas também tem um significado pessoal, pois ela sofreu em sua família os impactos da pandemia. No ano passado, ela perdeu o pai (que também era médico) e o avô, ambos vítimas da covid-19. "A gente está vivendo período muito turbulento, a pandemia que assustou muita gente. Eu tive a infelicidade de perder meu pai e meu avô durante a pandemia. Então me sinto muito honrada de poder contribuir de alguma forma, tanto atendendo quanto vacinando os pacientes”.