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29 de Março de 2012 09h02

Escola de Tempo Integral amplia atendimento aos alunos da zona rural

29/03/2012

Giovania Duarte-SME-3645-6578

Mais quatro escolas rurais do município de Cuiabá foram contempladas este ano com o Programa Escola de Tempo Integral, implementado no município em 2008.

O projeto oportuniza o acesso dos alunos da rede a atividades educativas, culturais e esportivas na escola, no período inverso em que estudam. Isso possibilita ao aluno uma frequência diária na unidade escolar de sete horas e meia diárias.

No primeiro ano de existência, a Escola de Tempo Integral atendeu 10 unidades da rede municipal com recursos próprios. Em setembro de 2008, foi ampliado para 31 unidades já com a parceria do Ministério da Educação, e, em 2009, 40 unidades de ensino do município já tinham sido contempladas pelo programa.

Já em 2010, mais onze escolas passaram a oferecer também as atividades do Educa Mais. No ano passado, 62 comunidades escolares foram beneficiadas pelo projeto.

Em 2012, a Secretaria de Educação da capital pretende estender o projeto a todas as escolas que atendam aos critérios para serem contempladas, ou seja, 81 das 94 unidades de ensino da rede.

A escola municipal rural Estevão Alves Corrêa, localizada na comunidade Rio dos Peixes, na estrada que liga Cuiabá à Chapada dos Guimarães, atende 172 alunos no Educa Mais dos 240 estudantes da unidade.

Os alunos são de diversas comunidades da região, como Bandeira, Manso, Parque Mirella, Ecovile e Vila Sadia, que chegam cedo à escola e vão embora às 17 horas, depois de estudarem no ensino regular e participarem dos ensaios da fanfarra e canto coral, e atividades como letramento, futebol, dança e horta comunitária, que absorve diariamente cerca de oito horas desses alunos. “Uma das peculiaridades da nossa escola é que a comunidade é muito participativa e assídua em todas as ações”, afirma a diretora da unidade, Juciney Terezinha de Souza.

De acordo com a diretora, uma das atividades que mais atraem os alunos é a escolinha de futebol. No entanto a participação na atividade está relacionada ao rendimento escolar do estudante. “Todas as nossas ações são atreladas ao pedagógico e também compreendem o relacionamento interpessoal e trabalho em equipe”.

A articuladora do programa na unidade de ensino, Leide de Oliveira Fonseca, afirma que o Educa Mais ‘é algo que transformou’ a vida dos alunos. “Uma característica que observávamos nas nossas crianças era a baixa autoestima. Depois do programa, passaram a encarar melhor as dificuldades e também melhoraram o desempenho em sala de aula”.

Ela também destaca a participação dos pais nos eventos e o reconhecimento do trabalho desenvolvido pela escola. “Frequentemente, pais, mães e responsáveis relatam que o interesse dos filhos pela escola melhorou, além da empolgação pelas atividades do projeto”.

Educação Especial

Leide ressalta ainda o trabalho de integração promovido pela escola com estudantes que precisam de Atendimento Educacional Especializado (AEE). “Temos alunos com deficiência que estão incluídos na Escola de Tempo Integral. Para isso, fizemos um trabalho de respeito às diferenças e acolhimento com todos os alunos”.

Júlia Lucinéia Nazário tem 10 anos, está no 5º ano do Ensino Fundamental na Estevão Alves e participa de todas as atividades do Educa Mais na unidade de ensino. “De todas as oficinas que participo, a de dança é a que eu mais gosto. Além disso, também aprendi a valorizar o que tenho e como ajudar o meio ambiente”.

Além disso, aconselha quem ainda não participa do projeto. “Com o Educa Mais, você descobre seu talento. Eu descobri a dança e é muito bom”.

Hortas Comunitárias

A horta comunitária é outro atrativo para os estudantes, que ajudam na limpeza, adubação, semeadura e colheita das hortaliças “Muitos dos nossos alunos passaram a ajudar os pais em casa no plantio de vegetais. Outros, que não comiam verduras e legumes, por exemplo, aprenderam a gostar”, explica o monitor da horta, Paulo Dias da Costa.

Na avaliação da auxiliar de serviços gerais Sara Luci Castilho, 31 anos, que tem um filho que estuda o 7º ano do Ensino Fundamental na escola e participa de todas as atividades do Educa Mais, depois do programa, o filho melhorou o comportamento em casa e passou a ser mais interessado nos trabalhos da escola. “Nas aulas de letramento, por exemplo, ele está se desenvolvendo melhor a cada dia. As aulas que ele mais gosta são as de violão”.

Letramento

Cento e oitenta e oito alunos da também escola rural Nossa Senhora da Penha e França, no distrito do Coxipó do Ouro, passam o contraturno em atividades de letramento, xadrez, capoeira, dança, canto-coral e horta escolar. “Algo interessante no projeto é o trabalho com as turmas mistas, com alunos de faixa etária diferentes. Essa organização possibilitou um relacionamento melhor entre eles. No siriri, por exemplo, quem puxa a fila, quem dá o ritmo são os pequenos”, explica a articuladora do Educa Mais na unidade de ensino, Alinni Nery.

A professora diz que nas aulas do coral são trabalhados também instrumentos musicais, como violão e flauta. “No segundo semestre também trabalharemos com a viola de cocho. Essa preferência é porque esse é um instrumento tradicional da comunidade”.

Formação Ampla

O diretor da unidade, Ednilson de Carvalho, pondera que, quanto mais tempo a criança tem de atividades educativas acompanhadas de planejamento, mais ampla é a sua formação. “Outro aspecto interessante do Educa Mais é o fortalecimento da relação entre aluno/educador/família/escola”.

Carvalho pontua ainda que o projeto possibilita a valorização da cultura regional e a relação do homem com a terra por meio de realização de oficinas que possibilitem reflexões sobre sustentabilidade. “Temos que trabalhar na perspectiva do respeito com a terra, onde as pessoas tenham condições de produzir e viver bem nela”.

Tudo isso, sinaliza ele, está em consonância com a proposta da educação para o campo, que é trabalhar a educação de acordo com o contexto de vida do estudando e respeitando sua forma de vida.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             

Na avaliação diretor de Gestão Educacional da SME, Gilberto Fraga de Melo, a Escola de Tempo Integral no campo traz um componente a mais à educação dessa clientela, pois assegura benefícios que estão distantes dessas localidades, como atividades artísticas e culturais. “Avalio que na zona rural o projeto é mais fortalecido pela importância que é atribuída a ele pelas famílias, pois elas sabem que o projeto é uma grande oportunidade”.

Fraga também revela que a Secretaria tem se empenhando junto ao MEC para a universalização da Escola de tempo integral. “Hoje temos 62 escolas contempladas pelo Educa Mais e, das 94 unidades que temos, apenas 79 estão dentro do critério para receber o programa. Dessa forma, faltam apenas 17 escolas para que o educa mais atenda a totalidade da rede. “Com essas novas quatro unidades que passam a integrar o Educa Mais, cerca de 800 crianças e adolescentes serão beneficiadas por atividades educativas no contarturno”.

Para a coordenadora de Programas e Projetos da SME, Elizany Rosa, são diversas as contribuições da Escola de Tempo Integral nesses quatro anos de implementação. “Tivemos avanços muito significativos nesses quatro anos do programa, como a compreensão de todos os envolvidos nesse processo. Percebemos que professores referência, articuladores e monitores têm dialogado para a realização de um trabalho conjunto”, observa.

A educadora também destaca o fato de o Educa Mais ser contemplado no Projeto Político Pedagógico (PPP) das unidades de ensino, além dos benefícios estendidos aos alunos. “Não o tempo em si que faz a Escola de Integral produtiva, mas o que se faz nesse tempo. Enxergamos que não é um projeto assistencialista, mas ações que contribuem para a formação do cidadão. Isso pode ser observado na disciplina, no respeito e no sentimento de pertencimento dos alunos”.