Saúde / HUMANIZAÇÃO

21 de Maio de 2018 16h53

Profissionais e pacientes do Pronto Socorro comemoram resultados do ‘Projeto Desospitalização

21/05/2018

OZIANE RODRIGUES

Davi Valle

Arquivo

O ‘Projeto Desospitalização’ proporcionou um emocionado encontro entre pacientes e a equipe multidisciplinar do Hospital Pronto Socorro, na última sexta-feira (18). A iniciativa, que faz parte do grupo de ações fortalecidas e propostas pelo prefeito Emanuel Pinheiro, mediante o Comitê Emergencial de Gerenciamento de Superlotação da unidade, é formada por profissionais da área de saúde, como médicos, enfermeiros e psicólogos.

De acordo com a infectologista, Dra.Taynná Ferraz Corrêa, o projeto nasceu em 2014, com base na Portaria 1208/13 do Ministério da Saúde. No entanto, a operação foi intensificada ainda mais nesta gestão, a fim de oferecer um atendimento mais digno às pessoas que estavam hospitalizadas por meses e até anos, devido à doenças crônicas ou tratamentos de longo prazo.  Diante disso, visivelmente emocionada ao ouvir os relatos dos pacientes - que em sua maioria são vítimas de Osteomielite (infecção no osso causada por bactérias, microbactérias ou fungos) -, a profissional destacou que o momento foi marcado por uma troca de experiências entre os ‘desospitalizados’, tanto aqueles que ainda estão em tratamento, bem como os que já receberam alta.
“Esses pacientes estavam hospitalizados há muitos meses, alguns até anos, e muitos sem expectativa de cura. Eles conviviam com doenças e agravos comuns a um hospital, sem esperanças de que ainda poderiam ser curados. Mediante tamanho sofrimento, certos pacientes ainda solicitaram a amputação de seus membros, com a expectativa de que isso lhes trouxesse algum acalento. Então, passamos a estudar quadros clínicos estáveis, a fim de avaliar a possibilidade do  uso da medicação em casa, ou em uma unidade de saúde mais próxima. Após a ponderação de uma série de fatores, como condições psicossociais, de moradia, transporte e familiar de cada paciente, alguns se tornaram aptos a participarem do ‘Projeto Desospitalização’. Este encontro foi necessário para ouvirmos os reflexos dessa proposta na vida das pessoas contempladas, trocando experiências e absorvendo o impacto da iniciativa em cada um”, contou.

O motorista Valdir Paz Pinto da Silva, 43, deu entrada no Pronto Socorro no dia 16 de maio de 2016 e se ‘desospitalizou’ no dia 08 de abril de 2017, dando sequência ao tratamento em sua própria residência. Para ele, o projeto simplesmente devolveu a vontade de viver e o impediu de sofrer um colapso mental.

“Se não fosse a iniciativa, eu simplesmente iria enlouquecer. Eu já não aguentava mais estar aqui, a comida já não me fazia bem e eu brigava com os médicos e enfermeiros sempre. Vi pessoas falecerem e após tanto tempo internado desejei o mesmo para mim. Não queria mais estar aqui de jeito nenhum. Agora, no aconchego da minha casa e junto a minha família, além de estar me recuperando melhor, estou inclusive fazendo artefatos em ferro e ganhando uma renda extra. Sinto-me vivo novamente e devo isso a todos os profissionais que abraçaram esse projeto, possibilitando minha saída do hospital e me acompanhando muito bem até hoje”, refletiu Valdir.
Para a auxiliar de serviços gerais, Marlúcia Santos Thiago, a ‘desospitazação’ - após nove meses internada - foi a responsável pela não amputação de sua perna. “Os remédios para meu tratamento ficam em mais de R$900 reais por mês e os exames custam cerca de R$1.800. Se dependesse dos meus recursos, ou ficaria hospitalizada até ser curada ou teria minha perna amputada, pois não tenho condições de bancar esse tratamento. Por essa razão, só tenho a agradecer à Prefeitura de Cuiabá e espero que ele continue, para melhorar a vida de outras pessoas também”.  
O enfermeiro Euclides Souza, um dos precursores do projeto, diz que para garantir essa nova realidade aos pacientes, a equipe do ‘Desospitalização’ conta com o apoio de unidades referências da Atenção Secundária, Policlínica ou das Unidades de Pronto Atendimento 24h. “Nos casos de injetáveis, nós buscamos  os profissionais a par da realidade do nosso paciente, para que o tratamento seja conduzido da forma mais adequada. Quando o caso pode ser tratado via oral, os medicamentos são entregues diretamente aos enfermos. Todos recebem acompanhamentos semanais e a medicação necessária até a completa cura, com todo o cuidado e humanização necessária”, ressaltou.

 

Centro de Infusão
Com essa rotina, o ‘Projeto de Desospitalização’ conseguiu dar alta a quase 40 pacientes crônicos do Pronto Socorro e já prevê outras cinco ainda esta semana. Neste mês, os responsáveis pela iniciativa pretendem apresentar ao chefe do Executivo um plano para a criação do ‘Centro de Infusão’, que servirá de apoio a estes pacientes e possibilitará a ‘desospitalização’ de mais pessoas ao longo do mês.

“Com o Centro de Infusão, conseguiremos dar um suporte ainda maior aos que precisam, à medida que também reduzimos os custos da unidade. Isso também vai gerar um impacto menor em todo o sistema, uma vez que os leitos estarão disponíveis para pacientes com quadros clínicos mais graves”, finalizou Euclides.