Saúde / PRONTO SOCORRO

14 de Setembro de 2017 15h34

‘Odontologia humanizada’ em pacientes de UTI pediátrica diminui riscos de infecções graves

14/09/2017

OZIANE RODRIGUES

Davi C Valle

Reduzir o risco de infecções e cuidar do paciente de forma integral, diminuindo os índices de pneumonia associada à ventilação mecânica, bem como de outras infecções que podem evoluir para morte. Aspectos como esses estão entre as conquistas do serviço de Odontologia Hospitalar, oferecido pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), aos pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria pediátrica do Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá (HPSMC).

Os procedimentos que são realizados diariamente pelas cirurgiãs dentistas Cristhiane Leite e Sheila Molin, desde maio deste ano, são somados ao trabalho de outros profissionais da equipe multidisciplinar, que conta com fisioterapeuta, fonoaudiólogo e nutricionista, médicos e profissionais de enfermagem, com o objetivo de tratar o paciente de forma integral, indo desde o acompanhamento odontológico, higienização da boca e tratamento das doenças bucais.

Conforme Cristhiane, toda criança que entra na pediatria do Pronto Socorro é avaliada em sua condição bucal inicial e recebe medidas preventivas e ou curativas de adequação do meio bucal visando a prevenção de infecções. O foco do trabalho é intervir na criança onde a doença sistêmica possa ser um fator de risco para agravamento  ou instalação de uma doença bucal, ou cuja doença bucal possa ser fator de risco para agravamento  ou instalação de uma complicação sistêmica.

“Obtivemos melhorias gratificantes nesses índices, especialmente na questão da pneumonia associada à ventilação mecânica, que geralmente se desenvolve 48h a partir do início do processo de entubação. Por estarem inconscientes, esses pacientes não conseguem controlar o fluxo salivar, associado ao acúmulo de biofilme oral (placa bacteriana), que podem levar a pneumonia por aspiração. Dessa forma, com muito amor pelos nossos pacientes, os auxiliamos com esse serviço diferenciado”, ressaltou.

Pesquisa desenvolvida por acadêmicos e docentes da Universidade de São Paulo (USP) no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto revela que a atuação de um dentista em Unidades de Terapias Intensivas, além de reduzir em até 56% as chances de infecções respiratórias, atenua o tempo de internação e a quantidade de medicamentos utilizados pelo paciente.

Este foi o caso da pequena Maria Luiza de Souza de 06 anos internada no  Pronto Socorro para tratar uma infecção na boca até então não identificada. “Minha filha estava com várias feridas na boca, fez uso de diferentes medicações para tratar a infecção, mas nada estava funcionando. Inclusive não estava mais se  alimentando. Veio encaminhada para o Pronto Socorro e aqui ela foi reavaliada e o problema finalmente foi identificado. Agora, além de não estar mais tomando uma série de antibióticos, ela está fazendo uso de algo que realmente está curando as feridas. Esse trabalho salvou a vida da minha filha”, disse Kelly Souza, mãe da paciente.

Neste caso a criança foi diagnosticada com estomatite herpética primária e instituído tratamento com Laserterapia em baixa intensidade, explicou a dentista Cristhiane Leite

As ações também são realizadas nas enfermarias, onde após a avaliação odontológica e tratamento, quando indicado, os pais são convidados a participar da higienização oral dos filhos e são orientados sobre a correta forma de fazê-la, por meio de palestras lúdicas e atividades educativas.

“Neste local as crianças já estão com o quadro de saúde mais estabilizado. Então, aproveitamos do momento de internação e realizamos atividades que sejam mais atrativas para elas. Incentivamos os pais para que eles dêem continuidade a esses cuidados  em casa e encaminhamos todos os casos para os Centros de Especialidades Odontológicos (CEO) mais próximos para darem sequencia aos tratamentos”, reforçou a dentista.

Legislação

Embora o atendimento e a presença de um cirurgião dentista em todas as Unidades de Terapia Intensiva de clínicas, hospitais públicos ou privados em que existam pacientes internados, tenha se tornado obrigatória no Brasil em 2015 por meio do projeto de Lei 2.776/08, o  serviço ainda é tido como inédito para muitas unidades do Estado, sendo o Hospital São Benedito e o Pronto Socorro de Cuiabá, referência neste serviço.