Planejamento / Preservar e atrair

25 de Junho de 2015 12h57

IPDU discute com a comunidade a requalificação da 24 de Outubro

25/06/2015

CARLOS MARTINS

Tchélo Figueiredo

Arquivo

A Rua 24 de Outubro, uma das mais antigas e tradicionais de Cuiabá, será a primeira via a passar por um processo de requalificação na Capital. O processo visa estimular o convívio entre as pessoas, fortalecer o turismo com a atração de mais pessoas para aquele local e preservar o patrimônio histórico, além de aumentar a segurança.

O primeiro passo foi dado na noite desta quarta-feira (24) por meio de uma reunião realizada no Espaço Magnólia, coordenada pelo IPDU (Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano) que teve a participação de moradores, profissionais liberais e donos de estabelecimentos comerciais localizados na quadra entre as ruas Castelo Branco e a Estevão de Mendonça (próximo a Praça 8 de Abril), trecho onde será executado um projeto piloto.

De acordo com o superintendente do IPDU, Benedito Libânio de Souza Neto, entre 90 e 120 dias será apresentado um projeto para o local. “Este trabalho vai envolver a comunidade, o IPDU e também as secretarias de Mobilidade Urbana e Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano. Estamos aqui para ouvir a comunidade que deverá apresentar suas demandas”, explicou Libânio. A próxima reunião, que terá a participação apenas dos moradores e comerciantes, está marcada para o dia 1º de julho. Da reunião sairá um documento com sugestões para o IPDU, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento.

Comércio diversificado

A 24 de Outubro, que já foi conhecida como Rua dos Poderes e Rua Lava Pés, e depois mudou para o nome atual, é paralela às avenidas Getúlio Vargas e Isaac Póvoas. Ela nasce na Comandante Costa e termina na Estevão de Mendonça e em sua extensão abriga casas antigas que preservam a história e permanecem ao lado de edifícios contemporâneos. Na rua podem ser encontrados 4 restaurantes, clínicas médicas, escritórios de advocacia, salões de beleza e um comércio variado, que inclui cafeteria e tapiocaria, lojas de doce, decoração e tecidos, esportes, roupas, móveis, bebidas, entre outros segmentos.

A jornalista Creuza Medeiros tem uma loja na rua há cinco anos, mas frequenta o local como cliente há mais de 20 anos. Segundo ela, conforme levantamento circulam pela rua aos sábados entre 700 e 1.000 pessoas. “Imagine como não seria este local, se ficasse mais bonito, arborizado, com calçadas mais largas, com ações que melhorassem a circulação das pessoas”, disse.

Entre as ações previstas pela requalificação estão o alargamento das calçadas, que em muitos pontos é inferior a 80 centímetros (bem menos do que estabelece a legislação municipal), iluminação especial, arborização com plantio de árvores específicas para calçadas (cujas raízes não danifiquem a calçada). “Com o alargamento das calçadas melhora-se a circulação das pessoas, a acessibilidade para cadeirantes, e se fortalece o comércio com o aumento do fluxo de pessoas”, disse Libânio.

Potencial comercial e cultural

O advogado Lafayette Garcia Novaes Sobrinho, que tem um escritório de advocacia na rua e também é proprietário de uma loja, elogiou iniciativa e se prontificou a conduzir o próximo encontro dos moradores. “Atualmente as calçadas estão precárias e falta segurança. Com estas modificações, mais pessoas serão atraídas para a nossa rua. Pela primeira vez estamos sendo ouvidos, e teremos o poder de decidir sobre a 24 de outubro, que é uma rua com grande potencial comercial e cultural”, afirmou.

A recuperação das fachadas dos imóveis antigos é outra possibilidade. “A partir do projeto, pode-se busca recursos federais junto ao Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]”, acrescentou o superintendente do IPDU. Durante a reunião, a diretora Especial de Projetos Urbanísticos, Marcella Carbonieri, apresentou um vídeo sobre projetos de requalificação executados, e que servem como exemplos, como os da Rua Oscar Freire, em São Paulo, e da Avenida Monsenhor Tabosa, em Fortaleza, no Ceará. Também participou da reunião o assessor técnico Enodes Soares, da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana.

Para embasar o projeto, uma parceira do IPDU, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, já está realizando um diagnóstico no local levantando todas as situações, desde a topografia da rua, número de casas, de endereços comerciais, entradas de garagens. Após a apresentação das propostas elaboradas pela comunidade, será feito um estudo preliminar incluindo as sugestões e, por fim, será definido o projeto de requalificação. “Após a elaboração do projeto, será lançada a licitação para o início das obras”, explicou Libânio.

Equilíbrio

O proprietário do Colégio Supremus, Elton Hiller, está estabelecido no local há 24 anos. Ele aprovou a ideia da requalificação, mas manifestou sua preocupação em relação ao estacionamento, que em alguns pontos poderá ser prejudicado com o alargamento das calçadas. “Sou favorável à ideia. Mas acho que se deve buscar um equilíbrio, ter cuidado para que as ações que visem tornar o local mais bonito não inviabilizem os negócios”, declarou.

Também compareceram á reunião, os moradores mais antigos da rua, e que residem ali desde que nasceram. Ao lado do irmão Deodato Aquino da Silva, que tem 69 anos, a dona Maria Natividade, 72, disse que gostou da ideia. “Minha única dúvida é sobre o estacionamento. Com o alargamento, espero que não estacionem na calçada”, disse dona Maria. O irmão Deodato ficou satisfeito em saber que as calçadas serão alargadas e melhoradas.

O superintendente do IPDU disse que será feito um estudo em toda a extensão da rua para ver os pontos passíveis de alargamento das calçadas. “É claro que o alargamento será feito em determinados lugares. Não será possível fazer isso em toda a rua, tem que se buscar o equilíbrio. Em alguns pontos permanecerá o estacionamento que poderá ser disciplinado com a volta do Faixa Verde, sistema que segundo os moradores já funcionou no local e foi muito positivo”.

Aproveitando a sugestão de um morador a respeito de uma possível permuta de uma área pertencente à União, que poderia ser trocada por um terreno da prefeitura em outro local, Libânio disse que existe esta possibilidade. “Esta área poderia ser usada para estacionamento. Além disso, a rua possui cinco estacionamentos que poderão receber recursos para que se possa construir garagens verticais. Temos que buscar soluções para resolver estas questões”, enfatizou.    

Para Libânio, hoje o grande desafio da cidade contemporânea é compatibilizar a relação pessoas e automóveis. O calor que faz em Cuiabá faz com que as pessoas prefiram circular em seus automóveis com o ar condicionado ligado. Mas a tendência nas grandes cidades é, aos poucos, ir tirando o automóvel das ruas. “Como diz o prefeito Mauro Mendes, esse é um processo de médio e longo prazo. Tem que pensar o futuro, pensar em soluções e uma delas é ir retirando aos poucos os automóveis das ruas. Mas para isso tem que melhorar o transporte público, com o funcionamento do VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), com a implantação do sistema BRT (Bus Rapid Transit), para dar conforto à população para que pelo menos em alguns dias da semana a pessoa possa deixar o veículo em casa”, concluiu.