Planejamento / Artigo

22 de Dezembro de 2016 14h08

Artigo - Orla do Porto Manoel de Barros

22/12/2016

Benedito Libânio Souza Neto*

O rio Cuiabá que gentilmente compartilha seu nome com a capital do Estado de Mato Grosso, a partir da implantação do projeto Porto Cuiabá, passa a ter uma nova perspectiva de integração com a cidade. Por muitos anos, esse patrimônio que deu origem à nossa cultura, caiu no esquecimento e pouco a pouco acabamos voltando as costas para o Rio Cuiabá, transformando-o em descarte da produção do espaço urbano.

Ao longo dos anos, foram poucos os gestores que se preocuparam em desenvolver projetos baseados em conceitos de sustentabilidade, com intervenções que pudessem fomentar o lazer, o entretenimento, a cultura e o convívio da população de maneira harmoniosa com o meio ambiente.

O processo de requalificação urbana é de extrema importância para a economia local, melhoria da qualidade de vida e autoestima dos cidadãos. As cidades são dinâmicas, e como tal, necessitam ser entendidas e, com respeito ao passado, criar novas dinâmicas conectadas às estruturas contemporâneas. Esses princípios não são novos, grandes cidades no mundo, como Baltimore, Buenos Aires, Barcelona, e mais recentemente, o Rio de Janeiro, requalificaram suas áreas portuárias e estão colhendo frutos maravilhosos. 
Sonho da gestão do prefeito Mauro Mendes, logo no seu primeiro ano de governo, o projeto Porto Cuiabá amadureceu a partir das discussões com a sociedade, instituições e órgãos de controle. E não poderia ser de outra forma o tratamento de questões tão relevantes como as ambientais, culturais, socioeconômicas, entre outras, que afetam a Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá. Observa-se hoje, que o sonho está se transformando em realidade. A parte mais complexa da obra encontra-se pronta, e já nos permite avaliarmos à verdadeira dimensão do projeto, que sem dúvidas, transformará todo o seu entorno.

Com um novo traçado, o calçadão da Orla ganha revestimento em placas cerâmicas de alto desempenho, com paginação inspirada em desenhos baseados em traços indígenas.

A intervenção na orla tem início na Granja Fenelon e prossegue até à Praça Luís Albuquerque, em frente ao Museu do Rio, de forma harmoniosa com a mata ciliar. Ao longo da sua extensão observamos os equipamentos implantados: teatro de arena; áreas de contemplação; sanitários; áreas destinadas à feiras gastronômicas e de arte; mobiliário urbano; mirante; novo aquário municipal; ciclovia; etc.

Estão sendo revitalizados os casarios do entorno do Museu do Rio e seu prédio histórico; iluminação pública que ganha tecnologia em LED. No Espaço Cultural Liu Arruda, como é chamada a praça em frente ao Museu do Rio, incorporou-se a via para veículos que existia, ampliando-o e transformando-o em um grande espaço livre, voltado ao uso das pessoas para as mais diversas atividades. Essa intervenção proporcionou condições de integração da cidade com o Rio, e sua paisagem aos fundos observa-se a mata ciliar, as pontes: Júlio Muller e Ponte Nova em um espaço apoteótico.

A relação entre os edifícios novos e os edifícios históricos se dá de forma harmoniosa e segue os preceitos da Carta de Veneza, importante manifesto de garantia da preservação do Patrimônio Histórico, e preconiza que os novos edifícios expressem a contemporaneidade. 

Ao longo da Orla também foram implantadas áreas de concessão para bares e lanchonetes para atendimento ao público. Esses equipamentos possuem regras e padrões específicos para sua construção e devem estar integrados com a escala da paisagem do Rio e sua mata ciliar. O conceito, para disponibilização de áreas de concessão nestes equipamentos públicos, segue as mesmas características que foram implementadas nos Parques Tia Nair e Parque das Águas. É um conceito inovador, cujo o objetivo é a autogestão do espaço público. Desta forma, os custos de manutenção, limpeza e outros serão mantidos através iniciativa privada por meio das concessões. Para a gestão pública, que passa por grandes dificuldades econômicas em várias cidades no Brasil, é fundamental a autogestão desses equipamentos públicos.

Enfim, este importante legado da administração Mauro Mendes, no marco zero da nossa urbe, sem dúvida alguma possibilitará uma nova relação de respeito entre a cidade e o Rio Cuiabá, relação essa respaldada pelas nossas origens, pela formação da nossa cultura. Possibilitará também, uma transformação significativa no entorno da região do Porto e adjacente, com atração de novas atividades socioeconômicas, bem como expelindo outras marginais naturalmente pela dinâmica da produção do espaço. É Cuiabá sendo preparada para o futuro, e já recebendo um presente antecipado para os seus 300 anos.

*Benedito Libânio Souza Neto é superintendente do Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (IPDU)