Comunicação / CUIABÁ 300 ANOS

22 de Março de 2019 15h00

CPC garante ingresso de alunos de baixa renda em universidades públicas

22/03/2019

ANDRÉ GARCIA SANTANA

Luiz Alves

Arquivo

ESPECIAL 300 ANOS - Anotações espalhadas pelo quarto, foco nos livros e presença integral às aulas do Curso Preparatório Comunitário (CPC). Foi assim que Emily Santos, 17, garantiu uma boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e uma vaga no curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Ela é a segunda pessoa de sua família a ingressar no ensino superior e está ao lado de outros 150 estudantes de baixa-renda da Capital que viram no projeto a oportunidade de iniciar uma graduação.

Aluna da Escola Estadual André Avelino Ribeiro, Emily conta que a tensão acerca da prova e a escolha do curso tomaram toda a sua atenção ao longo do último ano, quando se preparava para a avaliação. No período contou com o apoio do pai, aposentado, e da mãe, dona de casa. “Comecei a frequentar o polo do CPC do bairro 1º de Março, depois que minha irmã, que mora lá, ficou sabendo que as matrículas estavam abertas”.

Seu perfil “nerd”, como ela mesma define, inclui auto exigência e um cronograma rígido de estudos.  “Eu pego as coisas mais importantes, anoto no post-it e faço um mapa conceitual do conteúdo, prego na parede do quarto e vou estudando a partir disso. Tive uma nota boa o bastante para entrar no curso que, era minha primeira opção, mas mesmo assim, gostaria de ter uma pontuação maior.”

Reestruturado pela atual gestão, o projeto foi lançado em maio de 2018 e atendeu mais de 1.000 alunos de baixa renda, por sete diferentes pontos da Capital com aulas ministradas por professores de alto nível. A edição contou ainda com a possiblidade de interação com conteúdo online, por meio da complementação escolar feita por Ensino à Distância (EAD). Assim, foram formadas turmas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), hospedado no portal oficial do CPC.

Além dos aprovados na UFMT e na Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), O CPC também ajudou alunos a ingressarem em instituições particulares com bolsas de estudos integrais e parciais, por meio do Prouni. Para participar, o aluno tem que estar cursando o 3º ano, ter concluído o Ensino Médio em Escola Pública ou ser bolsista 100% da rede particular.

É o caso de Karoliny Melo, 18, que desde o início deste mês passou a estudar Enfermagem na Universidade de Cuiabá (Unic). Seu objetivo sempre foi cursar medicina e este, em sua opinião, é o primeiro passo rumo à concretização do sonho. “Pra mim é um passo avançado já, estou muito feliz. Também sou uma das primeiras da minha família a entrar para a graduação, o que acaba sendo uma responsabilidade enorme”, conta.

De acordo com o prefeito Emanuel Pinheiro, esta é uma maneira de assegurar a inclusão social e a oportunidade para disputar, com igualdade, uma vaga nas universidades brasileiras. “Neste contexto separamos 10% das vagas para funcionários ou filhos de funcionários públicos. Além disso, 5% das oportunidades corresponderam ao interesse de pessoas com algum tipo de deficiência.”

As aulas, ministradas majoritariamente no período noturno (de 19h às 22), aconteceram na Escola Estadual Presidente Médici, no centro; Escola Estadual André Avelino, no CPA I; Escola Professor Rafael Rueda – CAIC , no Pedra 90; no Centro Comunitário do bairro 1º de Março; no Centro Cultural Silva Freire, no Coxipó; e na Universidade de Cuiabá (Unic), no Jardim Europa.

O curso

Criado por intermédio da Secretaria de Gestão e da Secretaria de Inovação e Comunicação, o CPC foi inspirado em um modelo híbrido que trouxe um sistema inovador para o estudante, aliado a um grupo de professores experientes. De olho nos parâmetros do Exame, eles utilizaram uma metodologia de ensino baseada nas quatro áreas do conhecimento: Ciências da Natureza, Ciências de Matemática, Códigos de Linguagem e Ciências Humanas e Suas Tecnologias.

Segundo o titular da Pasta, Júnior Leite, os participantes precisaram comprovar que estavam matriculados 3º Ano do Ensino Médio ou curso equivalente, em escolas da rede pública ou privada - desde que fossem bolsistas. Além disso, não foi permitida a inscrição de alunos com formação de nível superior ou que estivessem cursando alguma faculdade na data da inscrição do processo.

Foi assim que Gustavo Xavier, 18, resolveu reforçar o conteúdo aprendido na escola. Ele passou para o curso de Matemática da UFMT com 652 pontos no Exame. Para ele que vinha se preparando desde o carnaval do ano passado, as aulas do Curso Comunitário foram fundamentais para o resultado obtido no Enem.   “Pra quem não tem auxílio, não tem um conhecimento básico, é fundamental, não tem nada a perder para cursos particulares, os professores e a estrutura são excelentes”, diz.

Já Rayssa Santiago, 20, que frequentou as aulas realizadas no polo da Escola do Presidente Médici, foi chamada para o curso de Direito da Unemat e alcançou os 800 pontos na redação do Enem. “Foco, força e determinação, essas são as palavras-chave para quem quer passar. Não podendo deixar de ressaltar o empenho da equipe de professores, que trabalharam sem medir esforços e sempre incentivando a não desistir”, explica.

O professor e coordenador do CPC, Cláudio Taques, mais conhecido como Pardal, que atua tanto nas redes pública e privada, destaca o contexto social que separa oportunidades para os alunos das duas redes. “O resultado alcançado com essa primeira turma nos deixa muito felizes e nos motiva a continuar. Além de famílias satisfeitas, testemunharemos sonhos alcançados e grandes projetos pela frente.”