Governo / BECO DO CANDEEIRO

10 de Julho de 2018 14h58

Para um passado jamais esquecido, uma nova alvorada

10/07/2018

Tchélo Figueiredo

Caminhar adiante não é um movimento solo, disperso e desvinculado. Olhar para frente sem saber suas origens torna a caminhada em vão. É preciso saber onde se estava, para compreender onde se quer chegar. Há 20 anos, três rostos da juventude perderam seu brilho, sufocados por uma tragédia sem precedentes e ainda sem explicação. Adileu Santos, Edgar Rodrigues e Reginaldo Dias Magalhães ficaram marcados na história da Capital pelo sangue injustamente derramado. Mas para a cuiabania, os meninos Baby, Indinho e Nado são a lembrança de uma pureza desperdiçada que jamais será esquecida.

Diariamente lembrados por um monumento doloroso que expressa saudade na Praça Senhor dos Passos, estes meninos são também a aflitiva memória que precisamos carregar como um povo. Eles me lembram, enquanto gestor público, o valor que cada pequena vida possui. Antagonicamente, ainda são um refrigério de que tempos melhores só se tornam reais quando a mudança se faz presente. E transformar a história do Beco do Candeeiro, palco desta terrível tragédia, está intimamente ligada ao compromisso de honrar o riso abafado destes garotos. Pois muito mais que serem inesquecíveis, nós queremos imortalizá-los a partir do renascimento do berço da nossa cultura, permitindo que a alegria e o vigor pueril se tornem a marca do nosso Centro Histórico.

A cuiabania reside em seus cantos, em suas antigas árvores frondosas que refrescam em dias quentes, em estruturas centenárias que refletem histórias inteiras. Este ardor, que certa vez fez da região mais antiga da cidade a gruta cultural, tradicionalista e eufórica de Cuiabá, precisa retomar os tempos de outrora, fazendo da noite um deleite e não uma sombra que assusta e afugenta aqueles que diariamente pelo centro percorrem. Para que mais crianças não venham a perecer à mercê das circunstâncias, para que famílias encontrem um novo reduto e para que os jovens façam dali uma nova morada do entretenimento local, os olhos do município estão voltados para essa matriz, o coração da Capital. E aqui, assim como a Estação Alencastro e a Praça Ipiranga já anunciam, uma nova alvorada virá, onde a cidade não mais dissipará os seus, mas os abraçará com segurança, qualidade de vida e novas oportunidades.

É preciso saber onde estivemos para poder caminhar. Olhando para trás, vejo uma história calejada, permeada por sonhos que, ainda que em tempos difíceis, fizeram deste município um lar para tantos cuiabanos - nascidos ou por opção. Em uma terra promissora, regada pelo ouro, outras riquezas aqui marcaram suas trajetórias. Vidas contribuíram para cada um desses 299 anos vividos até o dia de hoje e todas serão honradas, culminando em um novo que ultrapassará os limites sociais e territoriais que marcam as fronteiras locais. E a estes garotos - os nossos garotos, que olharam para Cuiabá com o riso fresco e imaginativo que só a juventude possui, nós dedicamos os próximos 300 anos e o Beco do Candeeiro. Não como ele está, mas como essa alvorada o transformará.

Emanuel Pinheiro, prefeito de Cuiabá