Agricultura, Trabalho e Desenvolvimento Econômico / DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

10 de Agosto de 2018 10h35

De doces típicos a arte sacra: artesanato ganha força com realização de feira no Centro de Cuiabá

10/08/2018

ANDRÉ GARCIA SANTANA

Gustavo Duarte

Arquivo

Às 4h30, Genis Maria de França acorda para dar início à atividade que garante o sustento de sua família. Doceira há mais de 10 anos, acostumou-se ao ritmo da produção, que começa com a separação da lenha para a fornalha, passa por compotas de frutas típicas e termina na barraca da feira, erguida quase diariamente em diferentes bairros de Cuiabá. No início de cada mês, ela pode ser encontrada no centro da cidade, onde seu trabalho ganha visibilidade com a realização da feira de artesanato da Praça da República, que começou na quinta-feira (9).

O ofício, segundo Genis, foi aprendido com o marido, em 2004. Juntos eles produzem e comercializam os tradicionalíssimos bolo de arroz cuiabano, furrundu, cachorrada, doce de leite, de figo, goiaba e caju. “Logo cedo eu tomo um cafezinho e já vou para o fogão, pego o leite e coloco pra ferver no tacho. Quando é furrundu, o mamão já está ralado do dia anterior. A maioria dessas coisas é da chácara onde moramos, aqui na região de Cuiabá mesmo”, conta.

Iniciativas como a dela, ganham força com a parceria entre associações de artesãos e a Prefeitura de Cuiabá, que, por meio da Secretaria de Agricultura, Trabalho e Desenvolvimento Econômico, fomenta o ofício de artesãos e micro empreendedores. As ações fazem parte do plano de administração do prefeito Emanuel Pinheiro e tem foco na capacitação e divulgação dos trabalhos.

É o que explica o titular da Pasta, Vinícius Hugueney. “Nesse ano já realizamos duas palestras incentivando o empreendedorismo e ensinando como cada um pode gerir seus negócios. A Prefeitura também faz o intermédio entre artesãos que precisam de mão de obra e aqueles que estão interessados em aprender e investir neste setor.”

Membro da Associação Homens e Mulheres de Fibra, Genis atua há 25 em diferentes feiras da Capital. Ela lembra que começou vendendo brinquedos e destaca que hoje as oportunidades estão se ampliando. Exemplo disso é a realização periódica desses eventos, que também tem edições na Orla do Porto. “Além das feiras fixas, participamos sempre de outras como essa. Eu vivo disso, então tenho que estar presente, pra divulgar o que eu faço”, diz.

O resultado converge com a proposta da Associação, que existe há um ano e possui um total de 160 profissionais registrados. De acordo com o vice-presidente, Luís Moreira, a criação da entidade surgiu da necessidade de fortalecer o segmento. “É uma maneira de conseguir mostrar nosso trabalho. Uma pessoa sozinha não teria esse espaço, então é a união que fortalece nossa causa”, afirma.

Na feira, onde se oferece desde crochê até itens criados a partir de reaproveitamento, também são encontradas opções para alimentação, incluindo doces e salgados típicos. Sendo assim, em uma passagem rápida pelos corredores da praça, vê-se intercalarem dezenas de barracas com chinelos, bolos, colares, tapioca, roupas, doces, tapetes, imagens de Nossas Senhoras, compotas, porções de pixé, e muitos outros.

A mistura, segundo o presidente da Associação Mato-grossense de Arte, Artesanato e Moto-Turismo (AMAAMT), Antônio Carlos Almeida Rios, é pensada para evitar a repetição, estimulando os visitantes a consumir. Também incluso na programação, seu grupo conta com 27 associados e busca fundir as três temáticas que o nomeiam para desenvolver a atividade e proporcionar qualidade de vida aos profissionais.

“Quando a Prefeitura começou a enxergar a gente, e isso não faz muito tempo, percebemos que nossas vidas começaram a melhorar, porque precisamos vender para pagar nossas contas. O artesão sente frio, sente fome, paga imposta, matricula filhos na escola, então precisamos de visibilidade e ainda há um longo caminho para que o poder público melhore essa situação,” avalia Carlão, como é conhecido pelos colegas.

Para ele, cada peça produzida manualmente, carrega a história e a cultura de um povo, recriada por meio do olhar do artesão. “O produto industrial não tem história, não tem sentimento. Tudo é feito aos lotes, uniformizado. O artesanato é tão antigo e valioso que as pessoas precisam conhecer e valorizar isso,” finaliza.